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Rafael Vieira e suas peculiares batidas.

De fala serena, olhar suave e trejeitos sutis, o disciplinado músico chega para tocar. Talvez seja seu ritual particular para conectar-se com o ofício. Talvez seja a maneira com que encara a estrada da vida. Ou talvez porque estrada e ofício sejam um mesmo universo. Nada disso realmente importa. Porque é no ato de empunhar suas baquetas que Rafael Vieira assume o papel a que se destinou - ou a que fora destinado - para mostrar ao que veio.  

Foto: 2001  | Green Belly Express

Mesmo para amadores e profissionais, é difícil conceber como parece ser fácil para o artista dominar seu instrumento. Ao reunir os aparelhos de percussão em apenas um, a bateria torna-se um dos únicos instrumentos musicais que exigem o esforço e a coordenação dos quatro membros do corpo. Toda essa visível habilidade é justificada na sólida experiência do músico, que já aos 10 anos de idade dava canjas com o pai nas suas incursões pelo som. 

Sob esta influência, Vieira se criou. Aos poucos, passou a desenvolver o seu set com o gosto pelo som que vem da percussão. Nos estudos com André Steuernagel, Adriano Cidral, Rodrigo Paiva e Mario Jr., entre outros importantes nomes, descobriu possibilidades. As oficinas e master classes com grandes mitos do cenário musical brasileiro como Zé Eduardo Nazário, Marcio Bahia, Endrigo Bettega e Edu Ribeiro corroboraram o seu encontro com a percussão. 

Foto: 2012 | Patrocínio Pearl

Sua versatilidade o permitiu dar um forte pontapé na carreira, aos 15 anos de idade, como baterista da Green Belly Express, banda de folk-rock liderada pelo cantor e compositor americano Rex Johnson, lançando “um dos mais belos discos independentes já gravados na cidade”, como citou à época a editoria de cultura do maior jornal da cidade. O ritmo continua firme nos álbuns da Circus Musicalis, Dudu Godoi, Vanessa Croge, Thales Godoi, Gandhi Martinez, Fevereiro da Silva, entre outros. 

 

Após quase quatro anos, fez das raízes de Piracity, a pequena vila germânica da maior cidade de Santa Catarina, o argumento para se unir a outros três figuras em Os Depira, banda que mantém atividade até hoje. Tempos depois, a consistência de sua criação fez Rafael Vieira desbravar os territórios delicados da produção musical, atuando com gravação, mixagem e edição em Itajaí, Florianópolis e Curitiba nos projetos de Fevereiro da Silva, Reino Fungi e Dona Chica.

Foto: 2014 | Os Depira
Foto: 2014 | Semana Pearl

O reconhecimento chegou com os convites participar das apresentações da Camerata Dona Franscisca, Joinville Jazz Big Band e do Grupo de Percussão de Itajaí. Em outras oportunidades, além de projetar a Orquestra da Sociesc, o álbum do Sultana e o programa Saraus Brasileiros, foi músico de apoio na banda do blueseiro Celso Blues Boy, cujo feedback positivo reforça o profissionalismo e competência musical do baterista.  

 

Da bagagem como produtor e da técnica apreendida no Conservatório de Música Popular de Itajaí, Vieira aproveitou o viés observador para reativar o curso de bateria da Escola de Música Villa-Lobos, em 2009. O pioneirismo na prática do ensino de música também propiciou a atuação em diversas outras iniciativas educacionais, como o projeto Banda na Escola (Itajaí/SC), o Força Jovem (Joinville/SC) e os corais Ciser e Espaço da Criança.    

Assim como para Hendrix, Janis, Curt, Jim e Amy, os 27 anos chegaram junto ao ápice da sua trajetória. No início de 2014, inspirado pela maturidade e polivalência musical, formou o Quarteto Araçá, grupo que propõe releituras instrumentais de grandes clássicos. Às vésperas da linha de chegada do bacharelado em Música pela Universidade do Vale do Itajaí, o músico lança o segundo álbum de Os Depira, numa batida ainda serena, suave e sutil. Porém, mais pesada, orgânica, profunda. Pelo talento do som, é simples identificar quem é Rafael Vieira.

Texto: Bruno Arins
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